Doce Deleite



quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Protestantismo Tupiniquim




"O segmento neopentecostal tem uma ética relativista e uma estética muito consumista".

Por Gedeon Freire de Alencar*

Como o senhor define esse tal protestantismo tupiniquim, tema de seu livro?

Vou recorrer à definição que faço no fim do livro, que é a de um cristianismo brasileiro. E sendo brasileiro, ele é miscigenado, sincrético, pluralista e festivo, do jeito que o Brasil é. Ou seja, o protestantismo, aqui, não é melhor nem pior do que é o Brasil ele está impregnado de miscigenação e sincretismo.

Então, a origem do protestantismo é sincrética?

Sim. O cristianismo, originalmente, é sincrético. Ninguém inventa a roda, ou seja, não existe religião pura. As festas judaicas, quando foram estabelecidas por Moisés, obedeciam ao ciclo agrícola. Eram festas que todas as civilizações da época tinham. Os mesopotâmicos tinham aquelas festas e os egípcios também, antes, durante e depois dos hebreus. A própria estrutura e o funcionamento do Tabernáculo tinham aspectos que templos de outros deuses da época também tinham. A diferença é que, no caso dos israelitas, havia uma revelação de um Deus específico e onisciente, mas a estrutura religiosa dos judeus, e aqui estou falando como sociólogo, era igual a qualquer outra. Ou seja, a religião tanto absorve costumes de sua época quanto influencia esses costumes.

Mas os evangélicos são críticos do sincretismo religioso.

Hoje, é muito fácil, e todo mundo faz isso, criticar a questão do sincretismo quanto a cultos afro. Uma das coisas que mais bato no meu texto é que essa nossa implicância com o culto afro tem muito mais a ver com o racismo subjacente. A gente absorve o folclore americano, o folclore europeu, o folclore de outros lugares. E esse folclore, só porque é de civilização branca e poderosa, não é pecado? Ora, veja as músicas dos nossos clássicos hinários. As músicas da Reforma Protestante, por exemplo, são do folclore alemão. Por que eu posso cantar folclore alemão e não posso cantar folclore angolano? Para se ter uma idéia, um instrumento que foi sacralizado no mundo evangélico é o piano. O piano nasceu em ambientes, digamos, não tão santos. Ele apareceu primeiro nos bordéis, já que sua música é apropriada para danças. Agora, como veio a nós pelo viés anglo-saxão branco, foi divinizado. Por que o piano é santo e o atabaque é demoníaco? Então, essa nossa implicância protestante vem muito mais por viés racista do que teológico.

(...) Os evangélicos são avessos também a um dos pontos básicos da fé sincrética, que é a veneração de imagens...

Quando o texto bíblico dos Dez Mandamentos fala em adoração de imagens, a gente simplifica dizendo que trata-se das imagens de escultura e logo associa com os santos católicos. Mas o que é imagem e o conceito de idolatria? O ídolo é TODA e qualquer mediação que se coloca entre você e Deus. Em alguns momentos das nossas histórias denominacionais, alguns líderes e membros de determinadas igrejas adoram muito mais a sua igreja e sua tradição do que a Deus. Cria-se todo um processo idolátrico, em que o indivíduo diz que a sua igreja é melhor do que as outras. Isso sem falar dos ícones, de algumas figuras do meio evangélico que têm um patamar de ídolo. Existem líderes em nosso meio evangélico que não pisam no chão. Ninguém pode aproximar-se ou falar diretamente com eles. Há quase um processo de veneração da personalidade do líder.

Nesse sentido, tal comportamento é tão pecaminoso e satânico quanto qualquer outra forma de idolatria.

(...) A matriz evangélica adotada no Brasil é incontestavelmente de influência americana. Logo, essa dominação americana sobre a Igreja brasileira não acabou?

Aí, entra uma outra particularidade da cultura brasileira, e os evangélicos também estão inseridos nessa cultura. O Brasil hoje é um dos países mais multiculturais do mundo. E somos extremamente abertos a novidades, principalmente aquelas oriundas de nações mais desenvolvidas do que nós.

(...) Além da americana, há outras influências culturais sobre a Igreja brasileira?

Sim. Em muitas igrejas pentecostais brasileiras, está havendo um retorno a tradições e origens judaicas, que provavelmente vai dar o que falar. Isso tem uma carga ideológica e racista de sionismo forte, num mundo onde se acirrou muito a questão da luta religiosa, influenciada pela direita americana. Eu conheço igrejas em São Paulo que têm a bandeira de Israel no altar. Em outras, o pastor instrui os fiéis a guardar o sábado e a utilizar objetos rituais como o candelabro e outros utensílios do antigo Tabernáculo hebreu.

Para quê isso? Uma coisa é você abençoar a geração de Abraão; outra é abençoar a atual nação de Israel. A nação de Israel hoje é a manifestação política de uma outra época, há um longo abismo desde os tempos de Abraão. Eu acho esse sionismo evangélico só traz problemas.

Por quê?

Eu que pergunto: por que certas coisas têm que ser resgatadas e outras não? Se é para obedecer ao Levítico na literalidade, precisaríamos fazer sacrifícios de animais e excluir as mulheres da liturgia. E é claro que não devemos fazer isso. Essa adaptação ao judaísmo não é conveniente para os crentes, pois como é que ficaria então nossa relação com o sacrifício de Jesus? Isso causa um problema teológico seríssimo.

(...) Hoje assistimos a uma explosão do chamado mercado gospel. A produção cultural evangélica tem influenciado "o mundo", para usar uma expressão bem comum entre os crentes?

O problema da nossa produção cultural é que a gente entra no mercado não para alterar alguma coisa, mas seguindo os padrões vigentes de produção, de consumo, de estética e, dizem as más línguas, de falcatrua. Isso é mais evidente em relação à chamada indústria de música gospel. Da mesma forma, com a chamada indústria evangélica de literatura. Há até indústria de testemunhos! Há algum tempo, os evangélicos achavam errado estar presente no mundo. Só que o grande problema não é a gente estar presente lá no mundo, mas seguir o mesmo padrão dominante. Transportando isso para a questão do comportamento social, não existe mais aquele perfil evangélico do indivíduo que não bebe, não fuma, não é desonesto e não faz coisas erradas. O evangélico de hoje não tem mais aquele carimbo de santidade na testa. Algumas vezes, faz coisas até piores do que os outros. Há muito lixo. "Isso é desonesto"!

E o que dizer das qualidade da produção cultural evangélica?

Se a gente pegar algumas canções de louvor e adoração que são cantadas hoje, veremos que são muito rasas. Os caras escrevem umas quatro linhas que não dizem nada e ficam repetindo essa baboseira por meia hora. Isso é desonesto. Eu já ouvi músicas da nova safra gospel que considero um lixo. Não têm qualidade musical, não têm conteúdo, não têm letra, não têm arranjo, não têm estilo. É uma porcaria, com todas as letras. Também tenho lido livros evangélicos de ponta a ponta e no final não consigo entender o tema daquilo. O autor não diz nada e você fica com a sensação de que gastou dinheiro e não aprendeu nada. Ou então, no culto, o pregador fica 40 minutos dizendo absolutamente nada. Ou seja, uma mensagem vazia é tão desonesta qanto um CD ou um livro que não dizem nada. E ainda tem aquela coisa da fabricação de astros da música, de ídolos da literatura, de estrelas do púlpito. A gente vê isso nos livros, nos CDs, nos cultos, nos congressos...

A teologia também é uma produção cultural?

Apesar dos teólogos sempre dizerem que teologia é uma revelação divina, a verdade é que ela é uma produção humana adequada ao seu tempo.

A teologia da prosperidade nasce junto com o neoliberalismo econômico. Quer dizer, ela junta a fome com a vontade de comer.(...) A teologia da prosperidade nasce num processo de urbanização fundamental. Essa teologia não poderia ter nascido numa sociedade rural. Ela tinha que aparecer num mundo urbanizado com o de hoje, com demandas de consumo inimagináveis. A teologia da prosperidade legaliza essa classe média evangélica que se aburguesou. E isso não é um fenômeno exclusivamente contemporâneo. A teologia calvinista do século 17 surgiu como forma de legalização da burguesia ascendente da época. E assim por diante.

Então a teologia desses grupos é meramente utilitária?

Tanto quanto de outros grupos. O segmento neopentecostal tem uma ética relativista e uma estética muito consumista. Isso também tem uma teologia, conforme a tese que o sociólogo Ricardo Mariano elaborou sobre o neopentecostalismo, que relativizou a ética e se aproveitou da estética.

Onde mais se observam contextualizações sociais ou políticas na teologia protestante?

Para não ficarmos somente na teologia da prosperidade, veja o escatologismo exagerado do pentecostalismo nas primeiras décadas do século passado. (...)

Falando em termos sociológicos, esse escatologismo levou os evangélicos à alienação?

Exatamente. O grande mal que essa teologia produziu foi uma alienação absoluta da realidade. Como as pessoas pensavam que Jesus já estava voltando, achavam que não deveriam mais ter nada a ver com este mundo. A teologia pentecostal, nos seus primeiros anos, e mesmo até hoje em alguns setores, levou os evangélicos a achar que só a vida espiritual deveria ser cuidada e o mundo que se explodisse. O fato de se pensar somente em morar no céu produziu uma profunda alienação. Olha, eu tenho muitas reservas contra os dogmáticos de plantão, os donos da verdade teológica, que dizem que isso ou aquilo é pecado e está errado. Pode ser que não seja. Como eu não sou teólogo ou pastor, posso me dar ao luxo de relativizar. Como sociólogo, não tenho essa preocupação dogmática. E acho que os crentes em geral também não devem ter.

*Gedeon Freire de Alencar, sociólogo, presbítero da Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, diretor pedagógico do Instituto de Estudos Contemporâneos (Icec) em entrevista publicada na revista Eclésia, no. 115, março de 2006. A revista Eclésia, que se autodenomina como sendo uma revista evangélica, pode ser compradas nas bancas.






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17:50.
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"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos." (São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)

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