Padre Fernando Cardoso
Marcos, capítulo 8, 34-39.
Jesus havia falado ontem de sua própria cruz. Hoje fala de nossa cruz. Jesus afirma que não haverá nem para Ele, nem para nenhum de nós, um caminho à Glória, um caminho ao Céu, que não passe pela Cruz e pela Paixão. Meus caríssimos irmãos, a tentação é grande de sobrevoar a cruz, de sobrevoar a sexta-feira santa e cair diretamente no domingo de Páscoa, na ressurreição. Não! Este caminho não leva a coisa alguma. “Se alguém dentre vós quiser ser meu discípulo”, ouvimos hoje, “renuncia-se a si mesmo. Tome a sua cruz e siga-me”.
Caríssimos irmãos, quando esse evangelho foi escrito, provavelmente nos anos 60 e na comunidade cristã de Roma, estourava a perseguição primeira que o império moveu contra a Igreja, a perseguição neroniana. Naquela ocasião, tornar-se catecúmeno, tornar-se um candidato ao cristianismo, através do batismo significava tornar-se candidato ao martírio. Tornar-se cristão comportava o risco de ter que caminhar para o martírio, perder sua própria vida e portanto, aquela comunidade corajosa tinha que se decidir a favor ou contra um evangelho tão perigoso, com todo o conhecimento de causa.
Vinte séculos se passaram e nós também caríssimos irmãos, somos convidados hoje, por Jesus, a examinar que tipo de renúncia nós já realizamos no passado pelo fato de sermos discípulos seus, pelo fato de seremos cristãos.
Atenção, atenção: queremos seguir na leitura e na meditação desse evangelho ou nos deparamos com uma página por demais explosiva? Ou nos deparamos com uma página subversiva, uma página de qualquer maneira antipática, que seria melhor virá-la imediatamente?
Não haverá céu, não haverá vida eterna, sem seguirmos agora, as pegadas de Jesus. Jesus não oferece para os seus candidatos uma vida terrestre melhor, uma vida terrestre mais completa, uma vida com mais riqueza, uma vida com menos dificuldade, uma vida com menos sofrimento. Jesus não promete a ninguém felicidade neste mundo.
Como se enganam aqueles que afirmam que Jesus lhe quer feliz neste mundo. Esta é uma palavra ambígua, esta é uma meia verdade. Jesus quer a nossa felicidade sim, mas sabe que essa felicidade passa atualmente para nós, necessariamente pelo caminho estreito da via que conduz ao calvário e somente no calvário a nossa vida, como também a sua, explodirá em glória de ressurreição.
É preciso que hoje, eu me pergunte, você se pergunte: Que renúncias eu fiz por causa de Jesus? Fui capaz de renunciar a algum pecado específico? E cada um percorra os dez mandamentos. Fui capaz de renunciar a alguma sedução por mais forte que ela fosse, pelo simples fato de ser um discípulo de Jesus? Este está sendo catequizado por Marcos. Este está seguindo Jesus. Mas apenas este. Outros, podem brincar de ser cristãos.
"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o
outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome
que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos."
(São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)