A cruz, a dor, principalmente a dor continuada, é um dos maiores dons que Deus pode nos proporcionar. Imersos nela, parece-nos ser transferidos para a escuridão da atmosfera, onde é mais clara a visão das coisas longínquas.
Quando ela falta, é fácil termos a ilusão de que os vaga-lumes são astros e fazemos concessões ao nosso eu, à nossa vanglória, pensando que isso tudo está a serviço de Deus e é compatível, aliás útil, para a sua glória. De modo que lhe oferecemos uma vida que é uma mistura de incenso e fumaça.
Quando, no entanto, a dor nos visita e não nos deixa, compreendemos melhor a palavra dos santos, que convidam ao esquecimento e à anulação de si, à autenticidade diante dos homens e de Deus. E esta constatação pode ser tão forte, que do profundo da alma surgem sinceros atos de gratidão para com Aquele que permite a dor.
A cruz nos dá a garantia de estarmos no caminho certo, assegura-nos de que tudo prossegue bem, porque se amplia o diâmetro das raízes da árvore de nossa vida: sinal evidente de que a copa está se abrindo para uma nova beleza.
E percebemos que as bem-aventuranças, anunciadas por Cristo, não são palavras de simples encorajamento ou apenas promessas, mas realidade. E que não é de modo algum impossível, a quem chora, sentir-se “bem-aventurado” justamente naquele pranto. Uma bem-aventurança diferente da que há de vir, mas que não deixa de ser bem-aventurança.
Chiara Lubich
"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o
outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome
que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos."
(São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)