Era o verão de 1964, em Turim, quando já se entreviam os primeiros sinais do iminente maio de 1968, com os estudantes universitários que se alimentavam de Sigmund Freud, Karl Marx, Wilhelm Reich, o mundo católico se debatia nos problemas do pós-concílio Vaticano II. Neste contexto, Messori encontrou o Cristo que lhe mudou a vida.
A história do filho de um carpinteiro de Nazaré que dizia ser o filho de Deus e que morreu inocente na cruz entrou tão profundamente na vida deste estudante universitário, que o primeiro livro que publicou,
«Hipóteses sobre Jesus», converteu-se em um best-seller internacional.
Quem conta a conversão, as vivências, as experiências, os pensamentos de um católico que não atende a bagatelas, apologético com razão, sólido e realista, é o vaticanista
Andrea Tornielli, que entrevistou Vittorio Messori, no livro publicado agora em italiano com o título «
Por que creio. Uma vida para dar razão da fé» («Perché credo. Una vita per rendere ragione della fede», editora Piemme).
Neste diálogo austero e essencial, Messori relata que ninguém acreditava no êxito de
«Hipóteses sobre Jesus». Muitos procuravam convencê-lo de que fizesse outra coisa. Os anti-clericais se mostraram hostis, mas também havia católicos ascéticos.
Os religiosos da editora
«Sei», seus primeiros editores, estavam seguros de que o livro seria um fracasso editorial e por isso o mantiveram em uma gaveta durante mais de um ano e, na primeira edição, imprimiram só três mil exemplares. Hoje, aquele livro superou um milhão de exemplares vendidos, foi traduzido a mais de 30 e apesar de que foi escrito a meados dos anos setenta, continua vendendo ainda mais de 20 mil exemplares por ano.
Messori explica, contudo, que o mérito não é seu, é Cristo quem continua interrogando a humanidade. Um Cristo que continua provocando a discussão, como demonstra a recente falha de um juiz em Valladolid, Espanha, contra os crucifixos nas salas do colégio público Macías Picavea.
«Não me escandalizo nem rasgo as vestes pelo que aconteceu na Espanha – comenta Vittorio Messori à Zenit –, porque estou convencido de que um pouco de dificuldade e de hostilidade faz bem ao cristianismo, desperta e faz tomar consciência da própria identidade.» «A história ensina: as perseguições foram oportunidades para que os cristãos se multiplicassem», explica. Na introdução ao livro, Tornielli precisa que Messori
«escreveu o livro que não encontrava».
Messori não procurava «análises sobre a sociedade, sobre a pobreza material e sobre suas causas, sobre o compromisso político e social dos católicos, sobre a aplicação das ciências humanas ao cristianismo».
O escritor convertido buscava respostas às perguntas:
«O que há de verdade nesta história, neste relato do qual, há dois mil anos, se continua ouvindo o eco no mundo? Jesus Cristo é de verdade o filho de Deus? Ele é realmente o Messias esperado por Israel, anunciado pelas profecias? E, sobretudo, ressuscitou mesmo? Mas antes que mais nada, Messori buscava certezas sobre a historicidade daquele homem, vindo ao mundo em uma aldeia perdida do Império Romano, que mudou a história da humanidade com a revolução do amor caritativo.
No livro, Messori relata sua conversão, que foi precedida por um fato extraordinário, uma ligação de um tio materno que morreu jovem por um ictus cerebral. O escritor é pessoa racional e está seguro de que não sonhou nem sofreu alucinações.
Depois, em julho e agosto de 1964, enquanto trabalhava na central da então companhia telefônica Stipel, encontrou por acaso um exemplar dos Evangelhos. Lendo-o avidamente, aconteceu um fenômeno que Messori descreve como uma
«luz de repente», um
«encontro misterioso», quase físico, com Jesus.
O conhecido escritor se descreve como um
«emiliano terráqueo» [da região italiana Emilia e com os pés na terra, N. do T.], sem vocação para a vida mística e ascética, e contudo narra que naqueles dois meses viveu
«em uma experiência mística», que jamais teria imaginado nem pensado conhecer. Uma situação de luz plena «
com a clareza de ter visto a Verdade, com toda sua força e evidência». Verdade que
«me foi mostrada sem que o esperasse ou o merecesse».
Na introdução, Tornielli sustenta que Vittorio Messori «é uma figura atípica no panorama eclesial e cultural de hoje. Não tem papas na língua, nem fala o ‘eclesialês’, a típica linguagem cheia de auto-referências, com freqüência estereotipada e tanto mais repetitiva quanto menos ligada à real experiência humana. E não lhe pode facilmente situar neste ou naquele alinhamento. Não é tradicionalista, não é um moralista nem um teocon».
Tornielli relata que Messori tem um só grande remorso:
«Constatar cada dia que a ‘conversão da mente’ – que foi e é total – com muita freqüência não é acompanhada pela ‘conversão do coração’. E que, portanto, deve unir-se ao lamento do ‘seu’ Blaise Pascal: ‘
Quanta distância há, em mim, cristão, entre o pensamento e a vida!’».
Por Antonio Gaspari
«Cruzando o limiar da esperança» vendeu mais de 20 milhões de exemplares e foi traduzido para 53 idiomas.
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