sábado, 28 de março de 2009
Leia a Bíblia - Parte II
"Ler a Bíblia é uma coisa, eu a leio diariamente, interpretar pessoalmente a Bíblia, sem considerar aquilo que sempre foi crido pela cristandade, para formular para si doutrina e moral é outra completamente diferente. Esta é a fonte maldita da miríade de crenças que temos hoje no Cristianismo."
Leia a Bíblia Parte I Muitas vezes e de diversos modos, outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Depois nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. (Hb 1,1-2).
Viu? A Bíblia mesmo atesta: Deus falou aos pais pelos profetas (Bíblia, Escrituras); agora, nos fala pelo Seu Filho Jesus Cristo. Este transmite aos Apóstolos tudo o que recebeu do Pai. Como? De que jeito?
Aliás, cabe aqui uma pergunta: se é “sola João Ferreira de Almeida” – e quando um protestante diz "Leia a Bíblia", no fundo quer dizer: "leia e interprete livremente a Bíblia e tenha, nela, a sua única fonte de fé" -, por que razão Jesus instituiu doze Apóstolos, andou com eles por três anos e ensinou por parábolas, quando bastaria dirigir-se ao povo dizendo: “Eu confirmo somente a Escritura do Almeida como regra de fé, e mais nada”?
Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo... Dessa forma, Jesus está fazendo uma grande brincadeira de mau gosto com os adeptos da “sola João Ferreira de Almeida”! Ele não a estaria contradizendo? “Está na Bíblia, na Bíblia do Almeida, mas eu digo diferente”.
Ler, somente, não representa problema algum. Parece-nos que seríamos contra a leitura da Bíblia e advogaríamos que somente deveríamos escutar a sua recitação. A Missão do Magistério não é, simplesmente, como nunca foi e nunca será, recitar a Bíblia pura e simplesmente para os fiéis, num processo de “decoreba de versículos”. Cabe ao Magistério abrir-nos as Escrituras, quer dizer, interpretá-las, dar-lhes o sentido exato e preciso. Ao fiel cabe escutar, não a recitação, mas a catequese que se faz sobre o texto Bíblico e sobre a Tradição da Igreja.
É ridículo dizer que "a fé entra pelo ouvido" mais do que pelos olhos. Em muitas passagens bíblicas invocadas para sustentar essa tese o verbo ouvir está empregado no sentido de atender/obedecer. É óbvio que sim. O Magistério não apenas lê e explica, mas, igualmente, governa a Igreja. O laicato não apenas ouve e entende, mas, igualmente, obedece seus Pastores. Portanto, o "ouvir" está intimamente ligado à obediência e submissão. A Igreja ensina e pastoreia. A Pedro foram dados a infalibilidade e o Pastoreio Universal ("apascenta as minhas ovelhas; apascenta as minhas ovelhas; apascenta as minhas ovelhas").
Apenas no tenebroso mundo da “sola João Ferreira de Almeida” e do “livre exame” não há lugar para a obediência.
Vamos entrar no contexto de II Cor 3, 6? São Paulo está combatendo a primeira grande heresia do cristianismo: a dos judaizantes. Segundo esta heresia, cada cristão deveria cumprir a lei mosaica para que pudesse ser salvo. São Paulo advogava que, para esta salvação, bastariam os méritos de Cristo (doutrina confirmada por São Pedro no Concílio de Jerusalém descrito em At 15).
Ora, para que alguém aceitasse a doutrina de São Paulo, tinha, necessariamente, que aceitar o seu Magistério oral. Afinal, em nenhuma parte das escrituras hebraicas (únicas existentes até então) se dizia que a necessidade da lei mosaica era transitória e que a mesma era um mero sinal da Nova e Eterna Aliança em Cristo Jesus. Nas Escrituras, dizia-se, apenas, que Deus ordenara a observância daqueles preceitos ao povo. Portanto, toda a controvérsia entre São Paulo e os judaizantes, no fundo e em essência, é um embate entre o Magistério Apostólico (oral) e o texto das Escrituras. Prevaleceu o Magistério.
Talvez seja por isto que, apenas no século XX é que surgiram várias doutrinas "cristãs" como a do arrebatamento e a teoria da prosperidade. Talvez por isto os primeiros cristãos criam em tantas "heresias", como transubstanciação, intercessão dos santos, purgatório, etc..
Mas estes "primeiros cristãos ignorantes", “hereges”, converteram e convenceram o mundo derramando o seu sangue por Cristo; os atuais (que, certamente já podem ler e compreender corretamente o cristianismo), nada mais fazem do que encher programas de televisão pedindo ofertas. O que mais fazem, além disso, mesmo com toda a sua “sola João Ferreira de Almeida”?
O resultado desse livre exame da Escritura Sagrada foi uma quase infinita multiplicação de seitas. Tal sistema instaurou uma verdadeira Babel bíblica. Hoje, há milhares de seitas "evangélicas", cada qual dando uma interpretação diferente do texto sagrado, e todas se proclamando verdadeiras.
No fundo, cada protestante é uma "igreja", não podendo, de fato, existir a Igreja de Cristo. O protestantismo se ergue contra o poder infalível do Papa, e, para combatê-lo, proclama a infalibilidade individual de cada "crente".
Cada um deveria ler a Bíblia, e cada um teria um entendimento diferente da Sagrada Escritura, negando-se, assim, que haja realmente um sentido objetivamente verdadeiro e desejado por Deus. Nega-se, desse modo, que haja "uma só fé". Deus teria feito a Bíblia como uma "Obra Aberta": ela teria milhares de sentidos possíveis, todos possivelmente verdadeiros, mas nenhum exclusivamente verdadeiro e único.
Daí o slogan protestante: "Leia a Bíblia".
Se fosse a leitura da Bíblia necessária para a nossa salvação, certamente Nosso Senhor Jesus Cristo teria dito aos Apóstolos que a lessem, e que ordenassem a todos, sua leitura. Cristo teria ainda ordenado que se distribuíssem Bíblias a todos. Nesse caso, Ele talvez tivesse dito: "Ide e imprimi" em vez de "Ide, pois, e ensinai a todas as gentes..." (Mt. 28, 19). Ele não ordenou: "Leiam a Bíblia" e nem "Distribuam Bíblias a todos os povos". Nem mesmo afirmou: "Recomendem que todos os homens leiam a Bíblia".
Ele recrimina os fariseus dizendo-lhes: Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim. E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida... (Jo 5,39-40). Na bíblia protestante, “Examinais as Escrituras...”, exatamente no presente do indicativo, e não no imperativo afirmativo. Até conjugação de verbo torcem para falsificarem o sentido do texto. Imperativo afirmativo é “Examinai”, e não “Examinais”.
Por isso, Deus disse no Livro dos Provérbios: "assim como um espinheiro está na mão de um bêbado, assim está a parábola na boca do ignorante" (Prov. 26, 7).
O Espírito Santo apresenta-se como a garantia da presença ativa do mistério na história, que assegura sua realização através dos séculos. Graças ao Paráclito, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser vivida sempre pelas gerações sucessivas, na medida em que é transmitida e atualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo.
A Tradição é o rio vivo que nos une às origens, o rio vivo no qual as origens sempre estão presentes. O grande rio que nos leva à porta da eternidade. Neste rio vivo realiza-se sempre de novo a palavra do Senhor, que escutamos desde o início dos lábios do Senhor: Eis aqui que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo (Mateus 28,20). Concluindo e resumindo: podemos, portanto, dizer que a Tradição não é a transmissão de coisas ou de palavras, uma coleção de coisas mortas.
A Escritura no-lo atesta. Toda Escritura é útil... e não “somente” a Escritura é útil. E “somente” a bíblia do Almeida...
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