domingo, 14 de junho de 2009
Festas Populares
"A Igreja reconhece a importância das festas populares que, quando patrocinadas ou apoiadas pelos poderes públicos, não podem ser atransformadas em "pão e circo" para o povo, como nos tempos imperiais romanos". No nordeste brasileiro, as festas juninas têm um lugar especial, por sua raiz religiosa, enquanto estão ligadas ao calendário santoral da Igreja que cultua a memória de Santo Antônio, São João e São Pedro, considerados, realmente, "santos do povo".
Ao apresentá-los à veneração dos fiéis, a Igreja os propõe como exemplos de vida a serem imitados. Assim, na memória de Santo Antônio, no dia 13 de junho, a Igreja o invoca como "intercessor em todas as necessidades", a exemplo das moças que pedem sua intercessão, em vista de seu projeto de casamento.
No dia 24, festa do nascimento de São João Batista, que trouxe muitas "alegrias espirituais", a Igreja o recorda como aquele que veio "preparar para o Senhor um povo perfeito". Na memória de São Pedro e São Paulo, no dia 29, a Igreja pede a Deus que os fiéis possam "seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos deram as primícias da fé." A celebração da memória destes santos, portanto, sempre teve um sentido religioso, esse, na verdade, foi o legado das gerações passadas: o momento da oração precede o folguedo e o lado cultural favorece a confraternização do povo.
Hoje, acentua-se o aspecto cultural da comemoração, porém, evidenciam-se desvirtuações notórias no campo da música e da dança que chamam a atenção de pessoas e instituições interessadas na preservação da tradição. É preciso estar atento a essa mudança, efeito do fenômeno da globalização, que repercute na vida de indivíduos e incide no comportamento coletivo, de modo muito visível. Os grandes centros e as comunidades interioranas se deparam com esse quadro. Por isso, as bandas consagradas pela mídia abafam os grupos tradicionais, os cantores renomados tomam o lugar das autênticas vozes regionais, o saldo bancário dos artistas visitantes fica logo recheado, enquanto o cachê dos talentos domésticos fica à mercê da programação do caixa da Prefeitura.
A Igreja reconhece a importância das festas populares que, quando patrocinadas ou apoiadas pelos poderes públicos, não podem ser atransformadas em "pão e circo" para o povo, como nos tempos imperiais romanos. Por sinal, a instrumentalização das festas populares é uma prática generalizada entre os políticos, sempre em busca de dividendos eleitoreiros.
Dom Genival Saraiva, bispo de Palmares
Marcadores: Festas Juninas
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14:55.