A lista das “exclusões” às quais estou sendo submetida é extensa. Sou excluída de todas as formas: ora por adotar determinadas posturas e comportamentos, ora por não adotar determinadas posturas e comportamentos. Certas vezes sou excluída porque faço parte de tal coisa; outras vezes, sou desprezada porque não faço parte de tal coisa. Meus opressores não me entendem, e eu tampouco os compreendo. Portanto, o meu grito é – na verdade – um urro [quase um berro]: deixem-me ser católica!
Chega de me excluírem porque prefiro ouvir o Santo Padre, o Papa, a dar crédito a teólogos de meia tigela que dizem uma coisa hoje e outra amanhã; porque não dou ouvidos a quem vive espalhando os seus “ventos de doutrina” e encantando a multidão com as suas heresias. Devo ser excluída porque prefiro Tomás de Aquino a Leonardo Boff? Se bem que um dia desses, um dos meus opressores acabou me alegrando com um comentário. Disse ele: “Você não passa de um papagaio do Papa – vive repetindo o que ele fala”. Fiquei comovido. As lágrimas me vieram às faces. Eu não merecia tamanho elogio. Mas continuei sendo excluída porque, afinal, a garagem da minha casa continua servindo para guardar o carro: não fundei nenhum igrejola com nome esdrúxulo para extorquir pessoas em nome de Deus…
Chega de me excluírem porque acho que o homem nasceu para ter vida a dois com uma mulher e não com outro homem. Devo ser excluída só porque obedeço cega e fielmente à natureza que em mim está, graças a Deus, arraigada de maneira inseparável? Sendo eu heterossexual, cometo eu algum delito ao defender esta classe que – paulatinamente – se torna minoria neste nosso mundo cor-de-rosa? É justo que eu seja excluída só porque acho que saias combinam com mulheres, e ternos com homens? Acaso não posso ensinar [...] que o homossexualismo é pecado mortal e que “papai do céu castiga” quem comete este tipo de infração contra a Lei de Deus? Grito sim: isto é um absurdo!
Chega de me excluírem dizendo que eu não posso ser contrária ao aborto porque sou católica e, portanto, estou movido unicamente por razões de ordem religiosa. Ora, acaso eu não penso? Não posso discordar? Para ter isenção nesta matéria é preciso ser ateu? Por que os judeus, budistas, hindus, muçulmanos e outros que defendem o aborto não “se liberam” também de suas crenças para poder “opinar” com imparcialidade? Só eu – a católica – devo ficar calada?
Chega de me excluírem porque não tenho filiação partidária. Devo ser excluídoa porque prefiro votar nulo a votar em alguém que defenda a cultura da morte (cujos princípios e propostas são: aborto, eutanásia, pesquisas com células-tronco embrionárias, etc.)? Eu até queria ser presidente da república. Mas, por culpa da minha mãe (que desde que eu era pequena me incentivou a estudar) acabei tendo o sonho da presidência podado… Ora, se julgo que nenhum partido atende aos requisitos básicos, mínimos, da Doutrina Social da Igreja, por que eu daria minha adesão a eles? Pior: porque eu me filiaria a um partido que contraria abertamente esta Doutrina? Mereço ser excluída porque anteponho a filiação divina – que adquiri por ocasião do Batismo – à filiação partidária?
Chega de me excluírem porque não sou comunista! Que mal há em eu não querer dividir o quintal da minha casa com nenhum sem-terra oportunista? Devo ser excluída apenas porque vejo em Jesus um exemplo de santidade e não um modelo de revolucionário? Por que eu tenho que ser inimigo de empresas capitalistas como a McDonald’s se os caras produzem o melhor McChicken com aplique de catupiry e fritas do mercado?! Ora, francamente!
Chega de me excluírem porque prefiro rezar na missa e dançar na boate. Sim, eu sou excluída porque não faço parte do pessoal que “curte” a missa (dançando, pulando, saltando como pipoca) e diz ir às Cristotecas da vida para rezar. Acaso eu sou obrigada a concordar com essa total inversão das coisas? Tem gente que acha que a missa foi feita para que os fiéis batam palmas, saltem de ponta-a-cabeça diante do altar e façam malabarismo com as galhetas. Eu acho que essas coisas cabem muito bem num circo ou numa festa qualquer; mas não em uma missa. Que mal há em eu não concordar com essa gente? Tem gente que acha que as “boates de Cristo” são um ótimo lugar para o encontro com Deus. Eu continuo achando que são muito mais frutuosas as tradicionais visitas ao Santíssimo Sacramento…. Eu devo ser excluída porque penso assim?
Chega de me excluírem porque prefiro o canto gregoriano dos monges aos hits protestantes da moda! É justo que eu seja desprezada somente porque prefiro as vésperas cantadas em latim aos “funks para Jesus” que se espalham e fazem sucesso entre o povo? (detalhe: em alguns casos, para mim o latim é bem mais compreensível que o funkês).
Chega de me excluírem porque prefiro uma Missa de Formatura a um culto ecumênico. Por que eu trocaria a Perfeita Ação de Graças elevada a Deus na Santa Missa pela prece confusa de homens que rezam a deuses diferentes? (pois é óbvio que eu – católica – rezo a um Jesus bem distinto daquele imaginado pelos espíritas).
Pronto. Falei. Estou cansado de ser excluído. Estou farta de ser calada pelos meus opressores. Por isso decidi gemer, gritar, extravasar. Serei compreendida? Não sei. Serei aceita? É pouco provável. Entretanto, espero – paciente – o dia em que devo receber uma carta da Secretaria de Ressocialização dizendo que vai fazer comigo um processo de inclusão social. Caso eu não receba esta carta, certamente me enviarão uma outra, com outro teor: algo como um gentil convite à extradição em Marte, minha verdadeira e cara Pátria…
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"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o
outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome
que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos."
(São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)