Lá no seu registro sua cor é bege, mas para mim ele é o amarelinho. Durante mais de doze anos esteve sempre conosco, servindo-nos, levando-nos de cá pra lá e de lá pra cá. Mais de uma década de serviços prestados. Um belo dia, num domingo à noite em frente ao prédio de uma amiga, ele sumiu. Levaram o amarelinho. Disseram-nos que só um milagre o traria de volta. Pois é, milagres acontecem. Não é que o danadinho foi parar lá pelas bandas de Itaberaba, portal da chapada diamantina, na Bahia. Foi de lá que recebemos a notícia do seu paradeiro.
Dois dias depois estávamos, eu e César, a caminho de
Itaberaba-BA para resgatá-lo. Ao chegar ao local onde ele se encontrava nos deparamos com um quadro desolador: o amarelinho estava num estado lamentável, todo depenado. Providenciamos sua retirada imediata e levamos para oficina para que ele voltasse ao seu estado original e nos trouxesse de volta. Foram dois dias para que ele ficasse bom de novo.
A saga não foi só do amarelinho, mas principalmente nossa que tivemos que empreender uma viagem de mais de mil quilômetros, por dezessete horas, dentro de um ônibus e para um lugar estranho sem conhecer nada e nem ninguém. Como Deus nunca nos desampara, a nossa chegada e a nossa permanência na cidade, foi tranquila. Encontramos pessoas fantásticas que nos ajudaram desde o dia que chegamos até o dia em que saímos.
A volta foi dividida em duas etapas: a primeira com parada em Aracaju; a segunda, nosso destino final, Recife. Até chegarmos a Feira de Santana foi uma maravilha, mas para chegar em Aracaju, foi uma novela. Seguimos o caminho inverso e cada vez mais nos afastávamos até que a ficha do meu querido motorista caiu e ele resolveu parar para se informar. Cabeça dura, não acreditou na minha intuição feminina. Bom, finalmente chegamos em Aracaju, cidade encantadora. O bom de tudo é que pude passar algumas horas com minha amada mana e os meus queridos sobrinhos Mila e Lucas. Ah, também conheci os cães que são uns amores. São quatro: um casal de vira-latas e dois filhotes de filas que não me largavam, cheirando e lambendo o meus pés e puxando o meu vestido. Uma gracinha, os dois.
A casa em que minha irmã mora, tem uma área enorme na frente onde tem árvores e coqueiros e onde os cachorros se embolam quando estão brincando. À noite os vaga-lumes dão um espetáculo. Nunca vi tantos de uma só vez, até no quarto havia um piscando, piscando e piscando... Apesar do cansaço da viagem estava feliz por estar lá, feliz por revê-la, abraçá-la, passar aquelas poucas horas juntas. Enquanto apreciávamos o espetáculo dos pirilampos lembrei-me e falei pra ela sobre uma fábula interessante que conta a história da cobra que perseguia um vaga-lume. No fundo é uma história sobre o que é a inveja e o mal que ela pode causar. É assim:
Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vagalume que só vivia para brilhar. Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir. Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada...
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Não costumo abrir precedentes para ninguém, mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar...
- Pertenço à sua cadeia alimentar?
- Não.
- Te fiz alguma coisa?
- Não.
- Então, porque você quer me comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER VOCÊ BRILHAR...
(Fecha parêntesis)
Pois bem, depois disso nos sentamos pra conversar, colocar os assuntos em dia. Mila está ótima, continua aplicada nos estudos, cabelos lisos... Lucas está enorme, com 1.80m., um amor de pessoa, super aplicado nos estudos, tocando violão muito bem, motivo de orgulho para nós. E ela, a batalhadora de sempre, continua encarando tudo com força e coragem... Continua, a exemplo do pirilampo,
BRILHANDO, apesar de tudo e de todos.
E enquanto isso o amarelinho estava tomando aquele banho dado por César para, no dia seguinte, seguir viagem limpinho. E assim o cansaço foi nos vencendo e fomos todos dormir. No dia seguinte depois de um farto café da manhã partimos rumo a Recife enfrentando um calor daqueles, por mais de 520km. Enfim, chegamos ao nosso destino e assim cumprimos a nossa missão de resgate que era trazer o amarelinho de volta.
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