O advento é para nós cristãos um tempo litúrgico cativante. Um tempo de atenção e expectativa, mas também de escuta e acolhida. Não é um tempo de medo e angústia, mas de paz e delicadeza. É assim que o Anjo do Senhor anuncia o nascimento de Jesus no evangelho de Lucas: “Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2,10). É essa alegria que cativa os pastores para irem ao encontro do menino Jesus: atraídos pela maravilha e pelo amor. Precisamos, sim, recuperar o Jesus menino de que fala tão lindamente Fernando Pessoa em seu poema “guardador de rebanhos”. O menino que escapa de um sonho no fim da primavera e desce à terra para nos oferecer tudo aquilo que os olhos podem dar: a capacidade de ver o mundo de uma forma delicada e diferente. O menino Jesus que desperta no sonho de Alberto Caeiro é a criança que nos falta: “uma criança bonita de riso e natural”, que corre pelas ervas e se encanta com as flores e seu sorriso é sempre aberto. É esse menino que deve habitar a nossa aldeia:
“Ele é a Eterna criança, o deus que faltava. Ele é o humano que é natural, Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que sei com toda certeza Que ele é o Menino Jesus verdadeiro. E a criança tão humana que é divina”
É essa criança que nos motiva a olhar o mundo, as criaturas, as religiões de uma forma diferente: mais terna, mais simples, mais aberta e mais delicada. É a “Criança Nova” que nos oferece sua mão, mas que abraça também tudo o que existe. É a “Criança Eterna” que motiva a direção do nosso olhar, capaz de ver a presença do mistério em toda parte; que aguça os nossos ouvidos a captar alegremente o fluxo dinâmico de todos os sons. É a Linda Criança que acende em nossos corações o alento vital e a vontade de derramar vida por todo canto e levantar o que está para morrer.
O advento é tempo desse “acordo íntimo” com o Jesus menino que está sempre nascendo de novo na manjedoura do coração. Ele deve ser para nós o Deus que sempre vem, e nunca uma coisa já acabada. Como apontou Teilhard de Chardin de forma tão rica, “Deus é, antes, para nós o eterno Descobrimento e o eterno Crescimento”.
Por: Faustino Teixeira
"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o
outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome
que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos."
(São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)