terça-feira, 30 de janeiro de 2007
Cristo será o meu claustro
Creio não haver coração de homem, e muito menos de mulher, que ao menos uma vez, mormente durante a juventude, não tenha sentido a atração do claustro.
Não é a atração por uma forma claustral de vida, mas por alguma coisa que parece concentrar-se ali, entre quatro paredes, e se faz sentir, sonora, mesmo de longe.
Há nas comunidades - que, graças a Deus, estão espalhadas no mundo, quais constelações na noite escura – a luz da presença de Deus. Presença que sobressai vivamente porque brota de um conjunto de pessoas que, por Deus, quiseram imolar na obscuridade sua pobre aparência. Vivem imersas no silêncio estas casas de irmãos unidos em Deus; mas, pela força misteriosa das coisas celestiais, falam aos corações dos homens, dizendo uma palavra que o mundo desconhece, uma beatitude de união com Deus, pela qual os homens anseiam.
Contudo, também minha casa pode ter o perfume do claustro; também as paredes do meu lar podem tornar-se reino de paz, fortalezas de Deus em meio ao mundo.
Não é tanto o barulho exterior do rádio do vizinho, aberto até o último volume, nem o ruído dos automóveis, tampouco os gritos do vendedor de jornais, que roubam o encanto da minha casa. É antes todo rumor dentro de mim, que transforma meu lar numa praça sem proteção de muros, porque sem proteção de amor.
O Senhor está dentro de mim. Ele quer mover meus atos, permear de sua Luz o meu pensamento, acender a minha vontade, ditar, enfim, a lei das minhas ações e do meu descanso. Mas por vezes, aparece o meu eu que não O deixa viver em mim. Se ele deixar de perturbar, Deus tomará posse de todo o meu ser, e saberá dar também a estas paredes a imponência de uma abadia; e a este quarto a sacralidade de uma igreja; ao meu estar à mesa, a doçura de um rito; às minhas vestes, o perfume de um hábito sacro; ao tocar do telefone ou ao bater à porta, a nota alegre de um encontro com os irmãos que rompe – e contudo continua – o colóquio com Deus.
Então, sobre o meu silêncio, falará um outro e, sobre o meu apagar-se, acender-se-á uma luz. E ela haverá de iluminar muito longe, transpondo e quase consagrando estas paredes que protegem um membro de Cristo, um templo do Espírito Santo. E outras pessoas virão à minha casa para ir comigo à procura do Senhor e, nesta nossa amorosa busca em comum, avivar-se-á a chama, vibrará mais alto a melodia divina. E o meu coração, mesmo permanecendo no meio do mundo, não pedirá nada.
Cristo será o meu claustro, o Cristo do meu coração, Cristo em meio aos corações.
Chiara Lubich
Marcadores: Cristo
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14:08.