Admitir que temos um lado mesquinho poderia nos ajudar na busca dessa sabedoria madura. Negar a existência dessa pequenez pode produzir efeitos desatrosos. Pior. Aquilo que expulsamos com orgulho pela porta da frente tende a voltar sorrateiramente pela porta dos fundos. A repetição dos textos sagrados não confere santidade a ninguém.
"Aquele a quem eu alimentar".
"Não é preciso ser um serial killer. Pode ser o profissional que trai o amigo por ambicionar seu cargo; a mulher que calunia outra por mero ressentimento; ou simplesmente alguém querendo ver o circo pegar fogo. Embora sejamos tantas vezes bons, magníficos, altruístas, generosos, capazes do belo, até do extraordinário, algo espreita em nós, pronto para o salto, a mordida, o gosto de sangue na boca e o brilho demente no olhar. Algo que quer o sofrimento da vítima, aprecia seus gritos, tem prazer com sua humilhação: é o monstruoso que também somos. E que precisamos, a cada hora de cada dia, domesticar, controlar, sublimar.
O homem é um anjo montado num porco, disse Tomás de Aquino. O problema é que, de vez em quando, esse precário equilíbrio desanda, e aí salve-se quem puder.
Salvemo-nos".
"Bento XVI comemora seus dois anos de pontificado"
Hoje Joseph Ratzinger completa dois anos como pontífice da Igreja Católica. O cardeal foi escolhido, no dia 19 de abril de 2005, já no terceiro escrutínio, para ser o sucessor de João Paulo II, que havia falecido no dia 2 do mesmo mês. O Santo Padre adotou o nome de Bento XVI em homenagem ao Papa Bento XV, que atuou entre 1914 e 1922. Esse pontífice foi conhecido por ter desenvolvido uma ampla reforma administrativa no seio da Igreja, na qual procurou adequá-la ao mundo contemporâneo, enfrentando os desafios do Modernismo e resgatando aspectos fundamentais da doutrina. A escolha do nome também foi influenciada pela grande admiração que Joseph Ratzinger tem por São Bento de Núrsia, fundador da Ordem Beneditina e padroeiro da Europa. Bento XVI surpreendeu o mundo com o tema de sua primeira encíclica “Deus Caritas Est”, em que trata do amor.
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"Nestes dias da Oitava da Páscoa é grande a alegria da Igreja pela ressurreição de Cristo. Depois de ter sofrido a paixão e a morte na cruz, Ele está agora vivo para sempre e a morte já não tem poder algum sobre Ele".
Depois da ressurreição, o Senhor aparece várias vezes aos discípulos e encontra-se com eles em momentos diferentes. Os Evangelistas narram vários episódios dos quais transparece a admiração e a alegria das testemunhas de acontecimentos tão prodigiosos. Em particular, João realça as primeiras palavras dirigidas pelo Mestre ressuscitado aos discípulos.
«A paz esteja convosco», diz Ele entrando no Cenáculo, e repete esta saudação três vezes ( Jo 20, 19.21.26). Podemos dizer que esta expressão «a paz esteja convosco», em hebraico «shalom», contém e sintetiza, de certa forma, toda a mensagem pascal. A paz é o dom oferecido aos homens pelo Senhor ressuscitado e é o fruto da vida nova inaugurada pela sua ressurreição.
Por conseguinte, a paz identifica-se como «novidade» imersa na história da Páscoa de Cristo. Ela nasce de uma profunda renovação do coração do homem. Por conseguinte, ela não é o resultado de esforços humanos nem pode ser obtida apenas graças a acordos entre pessoas e instituições. É, ao contrário, um dom que se deve aceitar com generosidade, guardar com cuidado, e fazer frutificar com maturidade e com responsabilidade. Por mais atormentadas que sejam as situações e grandes as tensões e os conflitos, nada pode resistir à renovação eficaz que Cristo Ressuscitado nos trouxe. Ele é a nossa paz. Como lemos na Carta de São Paulo aos Efésios, Ele com a sua Cruz derrotou a inimizade "para criar em si mesmo, com os dois, um único homem novo, fazendo a paz" (2, 15).
A Oitava da Páscoa, repleta de luz e de alegria, concluir-se-á amanhã, com o domingo in Albis, chamado também domingo da "Misericórdia Divina". A Páscoa é manifestação perfeita desta misericórdia de Deus, "que tem piedade dos Seus servos" (Sl 135, 14).
O jornalista Jorge O`hara, na reportagem Plebiscito sobre a Liberação do Aborto, publicada nesta quarta-feira, dia 11 de abril, no jornal Folha Universal, descreve de maneira muito realista e sóbria a aprovação do aborto em Portugal e a grande possibilidade de isso acontecer também no Brasil.
A matéria fala que a legalização do aborto em Portugal, aprovada em um plebiscito em que mais de 2 milhões de pessoas (segundo a reportagem) foram às urnas, se constituiu uma derrota histórica do Vaticano. E alerta ainda que esta mesma derrota pode acontecer aqui.
Embora muito bem escrita, a matéria esquece de dizer que esses mais de 2 milhões de eleitores que expressaram sua opinião na consulta popular representam pouco mais de 30% da população apta a votar em Portugal. E que a legalização do aborto se deu, neste caso específico, muito mais pela omissão dos portugueses do que por uma maioria absoluta pró-aborto.
Uma outra questão, creio que mais importante ainda, é que o jornalista e seu texto pecam ao dizer que a legalização do aborto foi uma derrota histórica da Igreja Católica. Discordo em gênero, número e grau. A “vitória” pró-abortista constitui uma amarga derrota não do Vaticano, mas de todos aqueles que se opõem à prática do aborto e que se posicionam a favor da vida.
Considerando que a Folha Universal pertence à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada por Edir Macedo, cabe a pergunta: qual a posição da IURD em relação ao aborto? É a favor? É contra? A matéria não deixa isso claro em nenhum momento. Se o bispo Macedo for contra o aborto, então a derrota também foi dele. Aliás, a derrota foi da vida.
Mas deixo aqui a questão para quem puder responder: afinal a Igreja Universal do Reino de Deus é abortista ou não? Porque pior do que ser derrotado no debate, é não ter uma opinião a defender. Pior do que ser morto pelos seus ideais é não ter princípios nem um posicionamento claro diante das situações da vida. Pior do que não ganhar é se omitir e ainda posar na foto ao lado dos vencedores. Quem perdeu? Quem ganhou?
Alexandre Santos
"A IURD é à favor da legalização do aborto em casos como estupro, mal formação do feto, ou quando a vida da mãe está comprovadamente ameaçada pela gestação.
O líderes da IURD, com base em (Eclesiastes 6.3-6), pregam que a pessoa que vive uma vida infeliz, sem a salvação eterna e que não passou pelo "novo nascimento" que Jesus pregava (João 3.3), seria melhor que não tivesse nascido.
Ressalte-se que na legislação brasileira, desde 1941, o aborto já é permitido nos casos de estupro ou quando há ameaça à vida da gestante".
Será que todas as pessoas que são acometidas de doenças graves, como câncer por exemplo, são vítimas de macumbas, feitiços e amarrações do diabo?
Será que o grande números de pessoas que perdem todos os dias seus empregos são vítimas de macumbas, feitiços e amarrações do diabo?
Será que as vítimas do atentado do Word Trad Center e dos Tsunamis, foram vítimas de macumbas, feitiços e amarrações do diabo?
Será que as vítimas da violência urbana, como João Hélio, a modelo Maria Beatriz que teve 35% do corpo queimado, as vítimas de balas perdidas, dos acidentes de trânsito, foram ou são, vítimas de macumbas, feitiços e amarrações do diabo?
"De quem é a culpa?" Será da polícia mal preparada? Será do Estado inoperante? Será do Presidente? Será das drogas? Será de Deus? Ou será do diabo? Será??? Já percebeu como todos temos a imediata preocupação de encontrar um culpado para as "tragédias" da vida?
O desejo de encontrar um culpado não é novidade... Há muito tempo atrás, quando Jesus e seus discípulos se aproximaram de um homem, cego de nascença,"seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" (João 9, 2). "De quem é a culpa?" Qual será a origem desta pergunta? O que ela significa? O que, na verdade, desejamos, quando procuramos um culpado?
É verdade que, normalmente:
* Um culpado nos traz a sensação de justiça realizada;
* Um culpado sacia nossa fome de vingança, já que todos nós ansiamos um "olho por olho...";
* Um culpado nos livra de uma culpa que também é nossa. Quando culpamos alguém, nos isentamos de qualquer responsabilidade, já que "a culpa não era nossa!";
* Um culpado traz as coisas de volta à "normalidade", levando-nos à ilusão de que todo o problema foi resolvido com a identificação da sua causa;
* Um culpado oferece uma resposta lógica para nossa mente insatisfeita. Quando encontramos um culpado, nosso desejo de saber o "por quê?" é saciado.
Logo no início da história do homem, ainda antes do dilúvio, o livro de Gênesis já relata: "viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração..." (Gen 6,5). A cada dia que passa, o homem se animaliza cada vez mais, se banaliza cada vez mais, se torna mais violento, mais auto-destrutivo.
Todos os dias, milhares de pessoas morrem em todo mundo, vítimas de doenças e da violência. O problema é "humano". Onde houver gente, haverá violência, haverá pecado, haverá doença, haverá morte. De quem é a culpa?
A culpa é nossa, da história da nossa formação, da corrupção da nossa sociedade, do egoísmo das nossas famílias, da nossa vontade que não gosta de dividir, da nossa indiferença em relação à pobreza e à miséria. Enfim, de todos nós. Fechamos uma panela de pressão, acendemos o fogo, e reclamamos quando ela explode sobre de nós...
Certa vez Jesus disse: "Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um metro ao curso da sua vida?" (Mateus 6,27). Deus é soberano e "nenhum dos seus planos pode ser frustrado" (Jó 42,2). Jó nunca entendeu o "porquê" do seu sofrimento, mas aprendeu que a fé verdadeira confia, mesmo que não entenda. Talvez fosse melhor perguntar "para quê" ao invés de "por quê?", e "o quê?" ao invés de "quem?" Existem situações na vida que nunca vamos entender e onde nunca vamos encontrar um culpado. Nessas horas, é preciso aprender a descansar na soberania de Deus, que conduz todas as coisas para um fim proveitoso. "Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Romanos 8,28).
A solução, portanto, não está no homem, mas fora dele. Só Deus pode transformar as "tragédias" da vida em triunfos. O caminho não está na simples "perseguição" dos culpados. Há cerca de 2000 anos atrás, Jesus assumiu a culpa que era nossa. A Bíblia nos mostra que "O Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (Isaías 53,6). A paz da cidade não está no homem, mas em Deus.
"Tomai a peito o bem da cidade para onde vos exilei e rogai por ela ao Senhor, porque só tereis que lucrar com a sua prosperidade". (Jeremias 29,7). A solução está em Deus. Cada um de nós precisa cumprir o seu papel e espalhar a paz.
No século IV, a Vigília Pascal tomava toda a noite, do pôr do sol de Sábado até ao dia seguinte, de manhã muito cedo (Jo. 20, 1), de modo que não havia qualquer outra celebração em dia de Páscoa. Cedo porém esta prática desapareceu.
Mas é esta observância da Igreja primitiva que importa reter pelo seu grande significado: numa Noite semelhante àquela da libertação em que o povo hebreu, oprimido no Egito, esperou o sinal da partida para a Páscoa da liberdade (Ex. 12), o Povo da Nova Aliança espera a Ressurreição do Senhor Jesus. E deste modo os cristãos aguardam de lâmpadas acesas (Luc. 12, 35) que o Senhor saia vitorioso do túmulo.
É no Tempo que se cumpre a Salvação de Jesus Cristo, sobretudo através dos dois grandes Sacramentos do Batismo e de Eucaristia: O Batismo pelo fato de ser uma especialíssima configuração com a Morte e Ressurreição do Senhor Jesus (Rom. 6, 23), a Eucaristia por ser o seu grande Memorial.
A Liturgia da Noite Pascal porá em realce todos estes Sinais e Memórias, todo este Passado e Presente.
Apesar da riqueza do seu conteúdo e de toda a sua variedade, a Celebração da Vigília Pascal tem uma unidade espantosa nas suas quatro partes.
A Celebração da LUZ
Afugentando as Trevas do Pecado e da Morte, o cristão celebra nesta Noite Aquele que diz:" Eu sou a Luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a Luz da Vida " (Jo. 8, 12). De fato, Ele que "era a Luz verdadeira vindo ao mundo a todo o homem ilumina" (Jo. 1, 9).
A bênção do fogo, um fogo puro, não artificial, fogo depois comunicado ao CÍRIO, um dos grandes sinais litúrgicos desta Noite, e logo comunicado aos pequenos círios empunhados pela Assembléia, prepara a Igreja para o anúncio da Páscoa feito através do belo poema lírico, que é o Precónio.
Celebração da PALAVRA
Esta Celebração da Vigília resume uma História, que se actualiza hoje. Uma longa série de Leituras da Bíblia faz-nos reviver os passos mais importantes da História de um Povo, ao qual Deus se revelou.
A Celebração da ÁGUA
O momento mais alto da celebração pascal é a Celebração do Batismo. Associando-se à Ressurreição de Cristo, os batizados morrem para o homem velho ressuscitando para a Vida nova de Filhos de Deus e como membros da Igreja caminham para o Reino tendo de passar não pelas águas do mar vermelho mas sim pelas águas do Batismo.
Por isso, nos primeiros séculos, o Batismo celebrava-se somente na Vigília Pascal, sendo a Quaresma o grande Tempo de preparação.
Depois de Celebração do Batismo, o momento alto da Noite, toda a Assembléia é convidada a fazer uma pública e solene profissão de Fé, verdadeira reafirmação do seu Batismo.
A Celebração da EUCARISTIA
A Eucaristia é o grande Memorial da Morte e da Ressurreição do Senhor Jesus. "Anunciamos Senhor a vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição" Toda a celebração é uma explosão de alegria e um apelo a que nos consideremos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus (Rom. 6, 11).
Renascida pela Água e pelo Espírito e transferida para o Reino da Luz com a Força Nova da Palavra Criadora, alimentada com o Pão e o Vinho da Eucaristia, a Igreja sente-se um Povo de Homens Novos.
P. João Silva, s.j.
Ao contrário do que podemos imaginar, não é um dia de tristeza nem de pranto, mas de profunda reflexão acerca do caríssimo preço que Nosso Senhor pagou pela salvação de toda humanidade: oferecendo o dom maior, a própria vida.
Do alto da cruz, a redenção deixou de ser promessa e se tornou realidade. Rompeu-se o bloqueio entre o céu e a terra. Nossa comunhão com Deus, destruída pelo pecado, foi restabelecida pelo sangue derramado de Jesus. Podemos dizer com São João da Cruz:
“Na cruz, quando sofria o maior abandono sensível, Cristo realizou a maior obra que superou os grandes milagres e prodígios operados em toda a sua vida: a reconciliação do gênero humano com Deus, pela graça”.
O sacrifício da cruz recuperou para todos nós o Paraíso (eternidade), outrora perdido, por causa de nossos pecados. Portanto, a cruz que era considerada objeto de maldição ( Gl 3,13), tornou-se o trono da glória do Filho de Deus e instrumento de salvação.
Também, a morte de Jesus na cruz revelou a condição do homem pecador como ser-para-a-morte. Todos pecaram! A humanidade sem Deus é uma humanidade condenada à morte. Jesus sentiu a solidão da humanidade sem Deus, quando se tornou pecado por nós: “Meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). O homem, sem Deus, jaz nas trevas e na sombra da morte. Essa imagem de Jesus Crucificado é a imagem final da humanidade, se ela não se converter e permanecer em seu caminho.
Jesus, assumindo nossa dor, experimenta-a na sua mais profunda e crua realidade. Ele sofreu aquilo que na verdade cada pecador deveria padecer. Porém, ao gritar sua angústia, Ele invocou o Pai, chamando-o de: “Meu Deus”, expressando assim, a própria confiança e certeza de que, apesar de todas as aparências, o Pai não está longe, nem surdo.
Diante da súplica de Jesus, o Pai não o livrou da morte, mas o conduziu à suprema vitória. Por essa vitória, Cristo estabeleceu seu Reino de Amor, revelou a salvação a todos povos: “Embora sendo Filho, aprendeu sofrendo o que é obedecer, e já consumado, chegou a ser causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5,8-9).
Nesta perspectiva, podemos refletir sobre o nosso sofrimento, a nossa cruz! Esta é condição para seguirmos Jesus, Ele mesmo dá um sentido redentor à cruz, quando afirma: “Quem quiser seguir-me negue a si mesmo, carregue sua cruz e me siga” (Mc 8,34).
Então, ser discípulo de Jesus Cristo consiste em percorrer o seu caminho, isto é, não desprezar os próprios sofrimentos. Seremos vitoriosos no Senhor! Muitas vezes, questionamos os porquês destes sofrimentos. Jesus lhes deu um sentido, aplicando-os a serviço do Pai e em prol da humanidade: “Cristo padeceu por vós, deixando-vos um exemplo, para que sigais suas pegadas” (1Pd 2,21).
Portanto, sigamos sem medo, sem reservas os passos de Nosso Senhor e que a celebração da sua Paixão nos ajude a compreender que a dor e o sofrimento não são o fim de tudo, mas o itinerário que nos remete às alegria eternas da Ressurreição.
A liturgia da Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da Paixão de Cristo, já que quem deseja seguí-lo deve sentar-se à sua mesa e, com o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que iam entregá-lo.
E por outro lado, o mesmo Senhor Jesus nos da um testemunho idôneo da vocação ao serviço do mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus discípulos.
Neste sentido, o Evangelho de São João apresenta a Jesus 'sabendo que o Pai pôs tudo em suas mãos, que vinha de Deus e a Deus retornava', mas que, ante cada homem, sente tal amor que, igual como fez com os discípulos, se ajoelha e lava os seus pés, como gesto inquietante de uma acolhida inalcansável.
São Paulo completa a representação recordando a todas as comunidades cristãs o que ele mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu Corpo e seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia.
A Santa Missa é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na véspera da sua paixão, "enquanto ceiava com seus discípulos tomou pão..." (Mt 26, 26).
Ele quis que, como em sua última Ceia, seus discípulos nos reuníssemos e nos recordássemos d'Ele abençoando o pão e o vinho: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22,19).
Antes de ser entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso "quando comemos deste pão y bebemos deste cálice, proclamamos a morte do Senhor até que ele volte" (1Cor 11, 26).
Assim podemos afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte de Cristo que é Senhor, e "Senhor da Morte", isto é, o Ressuscitado cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao despedir-se: "Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis" (Jo 16, 16).
Como diz o prefácio deste dia: "Cristo verdadeiro e único sacerdote, se ofereceu como vítima de salvação e nos mandou perpetuar esta oferenda em sua comemoração". Porém esta Eucaristia deve ser celebrada com características próprias: como Missa "na Cia do Senhor".
Nesta Missa, de maneira distinta a todas as demais Eucaristias, não celebramos "diretamente" nem a morte nem a ressurreição de Cristo. Não nos adiantamos à Sexta-feira Santa nem à noite de Páscoa.
Hoje celebramos a alegria de saber que esta morte do Senhor, que não terminou no fracasso mas no êxito, teve um por quê e um para quê: foi uma "entrega", um "dar-se", foi "por algo"ou melhor dizendo, "por alguém" e nada menos que por "nós e por nossa salvação" (Credo). "Ninguém a tira de mim,(Jesus se refere à sua vida) mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e poder de retomá-la." (Jo 10, 18), e hoje nos diz que foi para "remissão dos pecados" (Mt 26, 28c).
Por isso esta Eucaristia deve ser celebrada o mais solenemente possível, porém, nos cantos, na mensagem, nos símbolos, não deve ser nem tão festiva nem tão jubilosamente explosiva como a Noite de Páscoa, noite em que celebramos o desfecho glorioso desta entrega, sem a qual tivesse sido inútil; tivesse sido apenas a entrega de alguém mais que morre pelos pobres e não os liberta. Porém não está repleta da solene e contrita tristeza da Sexta-feira Santa, porque o que nos interessa "sublinhar" neste momento, é que "o Pai entregou o Seu Filho para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"(Jo 3, 16) e que o Filho entregou-se voluntariamente a nós apesar de que fosse através da morte em uma cruz ignominiosa.
Hoje há alegria e a Igreja rompe a austeridade quaresmal cantando o "glória": é a alegria de quem se sabe amado por Deus; porém ao mesmo tempo é sóbria e dolorida, porque conhecemos o preço que Cristo pagou por nós.
Poderíamos dizer que a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que dá e se entrega com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria.
Podemos dizer que hoje celebramos com a liturgia (1a. Leitura) a Páscoa. Porém a da Noite do Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida (Js 5, 10-ss).
Hoje inicia a festa da "crise pascoal", isto é, da luta entre a morte e a vida, já que a vida nunca foi absorvida pela morte mas sim combatida por ela. A noite do sábado de Glória é o canto à vitória porém tingida de sangue, e hoje é o hino à luta, mas de quem vence, porque sua arma é o amor.
A primeira Semana Santa, pelo plano de Deus, foi a semana mais importante da vida de Jesus Cristo. Esta nossa semana santa, da mesma forma, deverá ser a semana mais importante da vida de cada um de nós. Deve ser uma semana de oração e reflexão, da compreensão dos eventos da paixão de Jesus Cristo, do conhecimento da mensagem de Deus para seu povo.
Introdução:
O Domingo de Ramos
Tanto Jesus como a população conheciam a oposição das autoridades, mas decidiu não se esconder. Na páscoa, no domingo pela manhã, quando os peregrinos estavam viajando para Jerusalém, Nosso Senhor saiu de Bethânia para Jerusalém, pela estrada principal. Ele enviou os discípulos para buscarem um jumento, como que preparando uma celebração. Os seus seguidores entusiasmados mobilizaram uma procissão triunfal, e triunfante Nosso Senhor entrou na cidade Santa. Esta entrada triunfal foi o grande momento pelo qual Nosso Senhor pôde proclamar o seu reino messiânico. Uma grande excitação prevaleceu na cidade sobre esta chegada. Em direção ao fim do dia, ele pregou a sua morte como sendo "levado da terra", e disse às pessoas: "Ainda um pouco a luz está entre vocês. Andem enquanto ainda possuem a luz, pois a escuridão não os alcançará". Este era o crepúsculo da luz do mundo. Ao anoitecer Nosso Senhor retornou com seus discípulos para Bethânia.
Segunda-Feira Santa
Os eventos dos próximos 3 ou 4 dias não estão claramente divididos nos evangelhos, mas o caminho é demonstrado pelas ações de Nosso Senhor na segunda-feira. Sua atividade neste período foi intensa. Não nos foi relatado todas as ações. Ele era protegido pelo povo nas suas disputas com as autoridades. Nosso Senhor viria a Jerusalém pela manhã, ficaria três dias ali, ensinando e discursando no Templo, à noite sairia da cidade, e se retiraria ao monte das Oliveiras (onde estavam Bethânia e Getsêmani). Vindo cedo à Jerusalém, Nosso Senhor encontrou uma figueira que tinha folhas mas não frutos - um símbolo do judaísmo, cuja religião possui muitas folhagens e práticas, mas sem espírito interior e sem frutos.
Terça-Feira Santa
Um dia de grandes disputas públicas com escribas e anciãos. Eles desafiaram a autoridade do Senhor. Ele contou a parábola dos vinhateiros, respondeu à questão sobre o tributo a César, ao caso apresentado pelos fariseus da mulher com seus sete esposos e a ressurreição, falou sobre o maior mandamento, questionou-os sobre "o filho de Davi". Ele concluiu os debates com uma denúncia aos fariseus e com os "sete ais", expressando uma angustiante lamentação sobre Jerusalém. Saindo da cidade, se aproximando do monte das Oliveiras, tristemente previu que lá não sobraria "pedra sobre pedra". Questionado sobre o destino de Jerusalém e do mundo, falou seu discurso escatológico e contou a parábola das virgens para alertar sobre a vigilância.
Quarta-Feira Santa
O mesmo calendário foi seguido. O sumo-sacerdote encontrava-se preocupado. As autoridades judaicas queriam eliminar Jesus. Deveriam agir antes que ele saísse da cidade e antes da festa da páscoa. Deveriam agir o mais rápido possível. Em seu encontro, uma ajuda veio de uma fonte inesperada - Judas. Por trinta moedas de prata, aceitou trair Jesus. Ficaram muito satisfeitos, seria muito mais fácil prender Jesus agora de forma mais rápida.
*Laura Queiroz
Fonte do artigo: Veritatis Splendor
O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a lembrança das Palmas e da paixão, da entrada de Jesus em Jerusalém e a liturgia da palavra que evoca a Paixão do Senhor no Evangelho de São Lucas.
Neste dia, entrecruzam as duas tradições litúrgicas que deram origem a esta celebração: a alegre, grandiosa , festiva liturgia da Igreja mãe da cidade santa, que se converte em mímesis, imitação do que Jesus fez em Jerusalém, e a austera memória - anamnese - da paixão que marcava a liturgia de Roma. Liturgia de Jerusalém e de Roma, juntas em nossa celebração. Com uma evocação que não pode deixar de ser atualizada.
Vamos com o pensamento a Jesuralém, subimos ao Monte das Oliveiras para recalar na capela de Betfagé, que nos lembra o gesto de Jesus, gesto profético, que entra como Rei pacífico, Messías aclamado primeiro e depois condenado, para cumprir em tudo as profecias.
Por um momento as pessoas reviveram a esperança de ter já consigo, de forma aberta e sem subterfúgios aquele que vinha em nome do Senhor. Ao menos assim o entenderam os mais simples, os discípulos e as pessoas que acompanharam ao Senhor Jesus, como um Rei.
São Lucas não falava de oliveiras nem de palmas, mas de pessoas que iam acarpetando o caminho com suas roupas, como se recebe a um Rei, gente que gritava: "Bendito o que vem como Rei em nome do Senhor. Paz no céu e glória nas alturas".
Palavras com uma estranha evocação das mesmas que anunciaram o nascimento do Senhor em Belém aos mais humildes. Jerusalém, desde o século IV, no esplendor de sua vida litúrgica celebrada neste momento com uma numerosa procissão. E isto agradou tanto aos peregrinos que o oriente deixou marcada nesta procissão de ramos como umas das mais belas celebrações da Semana Santa.
Com a litiurgia de Roma, ao contrário, entramos na Paixão e antecipamos a proclamação do mistério, com um grande contraste entre o caminho triunfante do Cristo do Domingo de Ramos e o "via crucis" dos dias santos.
Entretanto, são as últimas palavras de Jesus no madeiro a nova semente que deve empurrar o remo evangelizador da Igreja no mundo.
"Pai, em tuas mão eu entrego o meu espírito". Este é o evangelho, esta a nova notícia, o conteúdo da nova evangelização. Desde um paradoxo este mundo que parece tão autônomo, necessita que lhe seja anunciado o mistério da debilidade de nosso Deus em que se demonstra o cume de seu amor. Como o anunciaram os primeiros cristãos com estas narrações longas e detalhistas da paixão de Jesus.
Era o anúncio do amor de um Deus que desce conosco até o abismo do que não tem sentido, do pecado e da morte, do absurdo grito de Jesus em seu abandono e em sua confiança extrema. Era um anúncio ao mundo pagão tanto mais realista quanto mais com ele se poderia medir a força de sua Ressurreição.
A liturgia das palmas antecipa neste domingo, chamado de páscoa florida, o triunfo da ressurreição, enquanto que a leitura da Paixão nos convida a entrar conscientemente na Semana Santa da Paixão gloriosa e amorosa de Cristo o Senhor.
"Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o
outro me especifica.Um me distingue, o outro me designa. É por este sobrenome
que nosso povo é distinguido dos que são chamados heréticos."
(São Paciano de Barcelona, Carta a Sympronian, 375 D.C.)