Este domingo comemoramos, por convenção social, o Dia das Mães. Amor de mãe é coisa muito delicada, coisa que nem Freud explica. Não é nada fácil falar deste assunto sem repetir os mesmos velhos chavões, os mesmos adjetivos qualificativos... incomparável, único, verdadeiro, puro, imortal, etc. Talvez só as crianças consigam ainda criar algo de original, como aquela que disse: “amor é uma cola que Deus inventou para a gente ficar colado na mãe da gente”.
Por trás de tudo isso se esconde uma verdade maior: o que está na origem da vida acha-se envolvido de um grande mistério. Não é por acaso que o Evangelho afirma da mãe de Jesus:
“Maria guardava todas estas coisas no seu coração.” O coração é o lugar de guardar mistérios, aquilo que a gente não entende com a pura razão. Ela não tinha como entender os desígnios de Deus. Ser mãe de um Filho que deve nascer por obra e graça do Espírito Santo e chamar-se Emanuel, Deus Conosco? Como podia ela compreender tal coisa?
Isso vale para todas as mães. Todo filho merece chamar-se também “Deus Conosco”, uma vez que cada recém-nascido é imagem e semelhança de Deus. Diante desse mistério, vá uma mãe apegar-se aos argumentos da razão pura... e não suportará as primeiras experiências da maternidade! Aí está o sacrifício maior da maternidade: amar na incerteza do amor. Quantas vezes a realização vocacional do filho ou da filha se distancia sempre mais dos sonhos e dos planos do coração materno! Outras vezes mãe e filho discutem, dentro de casa, ela com os sentimentos, ele com os argumentos, ela com o coração, ele com a razão, e o que acontece ao final? Acabam os dois gritando um com o outro.
Quase sempre a razão triunfa pelo poder da lógica, mas deixa o coração ferido, deixa ferido o amor. Discutir não é o forte do amor, nem podia ser. Quem ama, sendo o amor verdadeiro, não necessita de argumentos. É Santo Agostinho quem escreve:
“ama et fac quod vis” (ama e faz o que quiseres). Todos sabemos o que é o amor, até a hora de falar dele, aí revelamos nossa ignorância. É que o amor não se dá bem com as palavras, ele não se reconhece nas palavras, nem precisa delas. Geralmente as mães que mais sofrem e mais fazem sofrer os filhos são aquelas que não conseguem conter os impulsos verbais, falam e falam e falam, trocando o coração pela língua. Podem até ter razão, porém acontece que coração e razão falam idiomas diferentes e quando se conflitam produzem mais desacordo e aborrecimento do que compreensão e simpatia.
Daí deriva o sacrifício maior da maternidade: dar a vida para entregá-la, possuir sem apropriar-se. Quem se orienta pelo próprio desejo, no campo do amor, facilmente passa a querer usar o outro, fazer dele uma extensão de si mesmo. Ora, o verdadeiro amor se fundamenta no absoluto respeito pela alteridade, pela identidade do outro. Os filhos são, de alguma forma, reféns do seu destino, consentir que isso seja assim exige, não poucas vezes, uma prova sublime de renúncia, mesmo quando alguém se deixa guiar pela melhor da intenções.
De qualquer forma, este nosso mundo não se sustentaria um dia a mais, e nenhuma criança poderia ainda nascer se não fosse a garantia deste sacrifício materno vivido e testemunhado heroicamente, anonimamente, cotidianamente.
Frei Aloísio Fragoso, frade franciscano.
"...Aproveitemos a oportunidade deste dia para conceder graça, alegrar e fortalecer mães trabalhadoras, viúvas, divorciadas, singulares, empresárias, educadoras, jovens, operárias, médicas, solteiras, motoristas, pobres, ricas, pernambucanas, desempregadas, estudantes, ansiosas, amadurecidas, ativistas, sonhadoras, comerciárias, inquietas... mães"!
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