Para os desavisados, ver um bloco de Carnaval dançando e cantando diante de uma igreja, cercado de passistas, de gente fantasiada, de foliões que atiravam serpentinas e confetes das janelas do templo, poderia parecer coisa feia... Para os que estavam naquela festa, não.
Ali estava a mais pura manifestação de carinho e dedicação a um homem que nasceu num domingo de Carnaval e foi
"carnavalesco" pela vida afora, mesmo sendo padre, bispo, arcebispo e ser hoje considerado santo, por todos aqueles que o conheceram.
Isso era a coisa mais natural em cada 7 de fevereiro, quando o
Bloco da Saudade, os artistas circenses os seresteiros das madrugadas, os foliões de todos os cantos vinham para a
Igreja das Fronteiras, para abraçar o pequenino e carismático
Dom Hélder Câmara, celebrando com ele mais um aniversário a cada ano e, costumeiramente, transformando a festa em carnaval, das mais puras e líricas tradições momescas.
Um dia, num arroubo de criatividade, o padre José Augusto chegou a proclamar, após a execução do tão conhecido hino do bloco
Madeira do Rosarinho:
"Dom Hélder, você é madeira que cupim não rói..." Foi um delírio... Nada mais adequado do que considerar assim, de forma popular e sob a inspiração do
frevo-de-bloco, aquele cearense pernambucanizado, querido por gente de todo o mundo, fiel apaixonado do carnaval e folião até o fim dos seus dias.
Nesses momentos especiais, até quando o lanche do aniversariante era servido na rua, um batalhão de voluntários cuidava de todos os detalhes, sem esquecer o toque carnavalhesco fundamental, fazendo dos fevereiros vividos uma celebração que ia além - muito além - dos simples gestos de cortesia, para eternizarem esses momentos. E o fiel
Bloco da Saudade continuou, anos a fio, presenteado o aniversariante com seu canto, seus banjos, violinos, violões... Ah! Que saudade!
Agora, é fevereiro novamente. Muitos vão lembrar de rezar por dom Hélder no dia 7 de fevereiro. Seus seguidores mais corajosos - padres e leigos - vão celebrar em sua memória. Os brincantes do
Carnaval de Pernambuco até poderão entre esse... Mas, com certeza, na memória de todos estarão as imagens passadas, desde o tempo em que ele
"regia" os cantores e a orquestra, ensaiava momentos de dança, até os anos em que, debilitado e doente, apenas acenava com a cabeça, sentado ao lado da porta da
Igreja das Fronteiras (onde viveu e morreu), agradecendo com sua bênção àquelas festivas demonstrações de amor e reconhecimento!
Viva dom Hélder Câmara, o arcebispo amante da arte que passou a vida a demonstrar o quanto valorizava aquele que houvesse sido tocado pelo dom e não guardasse para si, mas repartisse para todos!
Viva este 7 de fevereiro que chega, assinalando os 98 anos do nosso profeta!
Marieta Borges Lins e Silva
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