Neste período, apesar do frenesi das ruas e das vitrines lotadas de apelos consumistas, temos sempre a possibilidade de parar para refletirmos um pouco em torno de nossa caminhada como humanidade. Dezembro é um mês recheado de simbologia, principalmente por suas datas comemorativas. Há 60 anos, por exemplo, foi firmada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, referencial obrigatório para medir o grau de justiça das políticas públicas. Também recordamos com pesar os 20 anos do assassinato do seringueiro Chico Mendes.
Para o mundo ocindental, a data das datas é o dia em que se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré: uma criança, o Filho de Deus que veio apresentar ao mundo uma nova proposta de vida em comunidade.
Se o desenho da sociedade política no momento do nascimento de Jesus pode ser representado por uma pirâmide, que tinha no seu ápice o soberano - faraó, rei ou imperador - detentor de todo o poder, e na sua base estava o povo que não possuia uma valor em si mesmo, depois de Jesus essa configuração mudou. Com a sua revelação de Deus como um pai que ama todos os seus filhos e filhas sem distinção, homens e mulheres passam a ser herdeiros, possuidores de realeza pelo simples fato de serem humanos.
Jesus vai mais além: o seu Deus não está distante, mas presente no meio da humanidade reunida em seu nome. De fato, lê-se nos Evangelhos: "onde dois ou mais estão unidos em meu nome, eu estou no meio deles". Com essa afirmação jesus sinaliza para um novo desenho de organização política. Não mais piramidal, mas circular, onde a expressão do poder soberano é o reslutado do amor fraterno que circula entre os membros da comunidade humana.
A experiência de vida de Jesus de Nazaré sustenta sua afirmação. Ele não nasceu num palácio imperial, mas numa manjedoura, após haver sido rejeitado pelas hospedarias. Foi rodeado por pastores e agricultores. Ele não se coloca acima, mas ao lado da humanidade, em suas dores e realizações: como exilado no Egito, como filho ajudando seus pais nos trabalhos de carpintaria, como mestre demonstrando com sua reflexão uma nova forma de pensar o mundo. Viveu com absoluta convicção sua fé na revolução do que é capaz o amor, a ponto de ser condenado por isso. Na cruz (a pior das condenações) visitou o "último lugar", igualando-se aos marginalizados, emprobecidos e oprimidos. E, no momento extremo de sua vida, sentiu-se abandonado pelo Pai.
Ao reentregar seu espírito abandonado ao Pai, perdoou-nos e entregou-nos a ele: por meio desse último ato livre, recompõe a unidade da humanidade com Deus e da humanidade entre si. Na ressurreição de Jesus, estamos todos nós; com ele nasce a fraternidade verdadeira, porque viveu até o fim aquilo que anunciou.
O exemplo e a mensagem de Jesus de Nazaré nos desafiam a rever nosso compromisso social na construção da vida em nossas cidades. Para podermos ter cidades novas, é preciso um compromisso concreto com uma prática política fraterna, na qual todos - sem exceção - estejam incluídos de forma responsável, participativa e solidária.
Alexandre AragãoEducador social e especialista em políticas públicas.
Fonte: Revista Cidade Nova.